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A implantação do laboratório de análises enoquímicas, na regional São Joaquim, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), é parte da ação de zoneamento vitivinícola, coordenada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Dentre as cultivares próprias para altitude, avaliações agronômicas, agrometeorológicas e experimentos de microvinificação aferem também a viabilidade econômica de variedades italianas, oriundas da província de Trento. O objetivo é gerar tecnologias para incrementar a qualidade das uvas e elaboração de vinhos, transferindo o conhecimento às vinícolas da região ou empresas intervenientes. Segundo o pesquisador João Felippeto, já existem indícios de excelente potencial qualitativo para produção de vinhos finos de alta qualidade, mas a indicação para plantio comercial deve levar aproximadamente cinco anos.
Utilizando como referencial o nível do mar, as áreas da vitivinicultura no território catarinense estão situadas acima dos 900 metros de altitude. Felippeto explica que essa é uma condição fundamental para proporcionar o clima ideal para o cultivo diferenciado. As baixas temperaturas acarretam alterações metabólicas e retardam o ciclo vegetativo contribuindo para a melhoria do processo de maturação. Precipitação, temperatura média do ar, vento, umidade relativa e insolação são fatores determinantes da qualidade das safras. No entanto, a temperatura influencia diretamente a fenologia, o aumento do peso em relação ao volume e da própria formação da uva.
— As uvas cultivadas em mesoclimas de altitude são muito diferentes daquelas cultivadas no nível do mar, por exemplo. Podemos citar as características de maturação dos compostos fenólicos especialmente os taninos e as antocianas. Os taninos são responsáveis pela longevidade dos vinhos e as antocianas são os pigmentos que colorem os vinhos tintos. Essas condições edafoclimáticas propiciam um aumento quantitativo e qualitativo desses compostos. E o resultado é a elaboração de vinhos com potencial de guarda, isto é, vinhos que permanecem guardados durante vários anos sem alteração das suas características sensoriais ou gustativas. Muitas vezes é o contrário, alguns vinhos melhoram muito com o passar do tempo. Para vinhos brasileiros, são cinco ou seis anos. E, normalmente, são facilmente harmonizáveis com pratos de temperos fortes e carnes vermelhas — diz ele.
Os vinhos finos produzidos no Brasil são provenientes de videiras europeias. Bastante comuns e com grande parte do potencial do mercado, materiais como Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc são os mais utilizados atualmente. De acordo com a legislação viegente, esses vinhos devem apresentar um completo e harmônico conjunto de qualidades organolépticas.
— Dez graus centígrados é a temperatura base para as vitiviníferas ou outras cultivares vitis, variando em torno de três a quatro graus. Abaixo disso, as plantas paralisam o metabolismo. O fato é que as respostas fisiológicas de crescimento são sempre regidas por reações hormonais e de natureza enzimática, dependentes de temperatura. Por outro lado, a temperatura dos ar para crescimento da maioria das uvas é 20 a 25 graus centígrados. Altas temperaturas reduzem o teor de ácidos, aumentam o PH e inibem a formação de cor, além de reduzirem significativamente os aromas naturais das uvas — revela.
Facilmente adaptável a quase todos os locais do planeta, a cultura da videira deve atender às normas de boas práticas de vitivinicultura como forma de evitar o excesso de produção em detrimento da qualidade. Nesse sentido, tanto em alta quanto em baixas altitudes, o importante é que seja dada a prioridade à obtenção de uvas com qualidade superior a partir de uma produção limitada, ainda nos primeiro estágios, através de raleio de flores ou cachos. O ideal é a produção de seis ou sete toneladas por hectare para que o vinho possa expressar todo o potencial enológico.
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